Cinco foram denunciados pelo crime em Cuiabá e quatro já condenados.
João Arcanjo Ribeiro cumpre pena por outros crimes em presídio federal.
Completa 10 anos que o empresário Domingos Sávio Brandão de Lima Junior foi assassinado a tiros em frente à sede de seu jornal em Cuiabá, e até o momento o caso está sem desfecho final de julgamento. O acusado de ser o mandante do assassinato é João Arcanjo Ribeiro, que tem conseguido adiar a decisão da Justiça de enfrentar o júri popular pelo crime. No entanto, a possibilidade de que o julgamento ainda ocorra este ano ou até no início de 2013 não está descartada. Isso pelo fato dos autos do processo, que compõem 26 volumes, já terem sido remetidos no último mês do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o Tribunal de Justiça de Mato Grosso. O envio do processo ocorreu após decisão que partiu da ministra do STJ, Laurita Vaz, que em 2011 determinou o julgamento imediato de Arcanjo suspendendo ainda a autorização de recurso de defesa.
Foi às 15h15 do dia 30 de setembro de 2002 que dois homens em uma moto pararam próximo ao empresário Sávio Brandão, que estava acompanhado de um amigo em frente à sede do jornal Folha do Estado. Um deles, na garupa, sacou uma pistola e disparou os tiros à queima roupa. A polícia aponta que a execução do empresário ocorreu devido às reportagens veiculadas no jornal de Sávio Brandão sobre negócios fraudulentos, irregularidades e jogatina ilegal que envolvia o bicheiro João Arcanjo Ribeiro.
O inquérito que apurou o caso concluiu que a morte de Sávio foi executada em etapas e envolveu pelo menos cinco pessoas: João Arcanjo Ribeiro, Hércules Araújo Agostinho, Célio Alves, João Leite e Fernando Barbosa. Ainda segundo a investigação, João Leite teria contratado o ex-policial militar Célio Alves que, por sua vez, chamou o ex-cabo Hércules e Fernando Belo para cometer o crime. Os autos do processo apontam que os dois últimos estavam na moto que se aproximou de Sávio no momento do assassinato e que Hércules foi o autor dos disparos. O ex-cabo em depoimento confessou a autoria do crime.
Aviãozinho
As investigações também apontaram que Célio e Hércules vigiavam constantemente os passos do empresário. Um ponto de observação foi montado próximo a uma garagem de uma das empresas de Sávio. De lá, os suspeitos monitoravam os passos da vítima. O detalhe é que em um desses momentos um aviãozinho de papel foi feito por Hércules e deixado caído no chão. Peritos encontraram o papel e o laudo técnico revelou haver impressões digitais do ex-cabo da PM, o que comprovaria envolvimento dele no crime.
Hércules e Célio foram presos e, dois meses depois do crime, foi decretada a prisão de João Arcanjo Ribeiro. Em seguida, foi decretada a prisão de Fernando Belo Barbosa, preso na Itália, pela Interpol, no dia 7 de outubro de 2003 e extraditado para Mato Grosso. Em 2004, o ex-segurança João Leite foi preso em Mato Grosso do Sul. Todos, com exceção de Arcanjo, já foram julgados e condenados pelo crime.
Júri popular
A primeira sentença de pronúncia determinando que Arcanjo sentasse no banco dos réus foi proferida pela Justiça em dezembro de 2006, mas a defesa tem conseguido protelar a decisão por meio de inesgotáveis recursos, que somam mais de 20 até hoje. O advogado Zaid Arbid, que defende João Arcanjo Ribeiro, mas ele não foi encontrado para comentar o caso.
Com a decisão do STJ em remeter os autos ao Tribunal de Justiça, o julgamento de Arcanjo deve ter uma data para acontecer. “Agora os autos da ação devem ser encaminhados para a 1ª Vara Criminal de Cuiabá e, imediatamente, deverá ser agendado o julgamento. Não há mais motivos para protelar o júri”, avaliou o titular da 1ª Promotoria de Justiça Criminal do Ministério Público Estadual, promotor João Augusto Veras Gadelha. A assessoria de imprensa do TJMT informou que o processo será remetido para o Fórum da capital somente após os recursos interpostos pela defesa no STJ e no Supremo serem transitados em julgado.
Para Gadelha, a morosidade que se tem no caso se dá pela quantidade e seguidos recursos que a defesa insiste em impetrar na tentativa de barrar o julgamento e que, em muitos casos, segundo ele, não há procedência alguma. O promotor ressalta que os recursos acabam encontrando legalidade nas brechas que a lei oferece.
Atrás das grades
João Arcanjo Ribeiro foi preso em 2003 em Montevidéu, no Uruguai, depois que foi deflagrada em Mato Grosso a operação Arca de Noé, para desarticular o crime organizado no estado. Ele foi extraditado para o Brasil por determinação do juiz Julier Sebastião da Silva e atualmente está preso na penitenciária federal de Campo Grande (MS). Arcanjo cumpre pena pelos crimes de sonegação fiscal, formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro.
Célio Alves e Hércules Agostinho cumprem pena na Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá. Célio foi condenado a 17 anos de prisão pelo crime e, Hércules, a 18 anos. João Leite foi condenado a 16 anos de prisão pelo homicídio. Fernando Belo, também foi condenado pela morte de Sávio Brandão, mas conseguiu na Justiça a liberdade condicional. Fora da prisão, Fernando Belo acabou assassinado a tiros em 2010, no bairro Doutor Fábio, em Cuiabá.
Fonte: G1 MT