O conclave elegeu nesta quarta-feira (13) o cardeal Jorge Mario
Bergoglio, argentino, como novo Papa, Francisco I, sucessor de Bento XVI
à frente da Igreja Católica Apostólica Romana.
Ele se torna o 266º Papa da história, o primeiro latino-americano e também o primeiro jesuíta.
Em sua primeira bênção, para uma Praça de São Pedro lotada de fiéis
apesar da chuva, o argentino afirmou, em tom de brincadeira, que "parece
que seus colegas cardeais foram buscar o Papa no fim do mundo", em uma
referência à sua Argentina natal.
Depois, já em tom mais sério, ele pediu aos cerca de 1,2 bilhão de
católicos do mundo para "empreender um caminho de fraternidade, de amor"
e de "evangelização".
Falando em italiano e com um leve sotaque, ele também agradeceu ao seu
predecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, em um gesto sem precedentes
na Igreja moderna: um Papa agradecendo a um sucessor vivo.
Em seguida, ele pediu orações "a todos os homens e mulheres de boa vontade".
"Rezem por mim, e nos veremos em breve", disse, acrescentando que, nesta quinta, pretende rezar para Nossa Senhora.
"Boa noite a todos e bom descanso", finalizou, na varanda da Basílica de São Pedro, sob aplausos da multidão.
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O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado com o tradicional
"Habemus Papam!" ("Temos um Papa!"), pelo mais velho dos
cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran, e recebido com aplausos.
Também houve festa na Basílica de Buenos Aires,
em que 200 fiéis assistiam a missa no momento do anúncio.
A decisão surpreendeu, pois o argentino, citado inicialmente, não
aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom
Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
O novo Papa, um jesuíta de 76 anos, assume com a função de manter a
unidade de uma igreja que, nas palavras de seu próprio antecessor, está
dividida e imersa em crises.
A fumaça branca apareceu por volta das 19h08 locais (15h08 de
Brasília), e foi recebida com festa pela multidão que tomava a Praça de
São Pedro. Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram.
Trajetória
Arcebispo de Buenos Aires e primado da Argentina, Jorge Mario Bergoglio
é um homem tímido e de poucas palavras, que goza de grande prestígio
entre seus seguidores, que apreciam sua total disponibilidade e seu
estilo de vida sem ostentação.
Ele é admirado por seus dotes intelectuais e, dentro do Episcopado argentino, é considerado um moderado.
Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina,
Bergoglio formou-se engenheiro químico, mas escolheu posteriormente o
sacerdócio, entrando para o seminário em Villa Devoto. Em março de 1958,
ingressou no noviciado da Companhia de Jesus (jesuítas). Em 1963, ele
estudou humanidades no Chile, retornando posteriormente a Buenos Aires.
Entre 1964 de 1965, Bergoglio foi professor de literatura e psicologia
no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé e, em 1966, ensinou as mesmas
matérias em um colégio de Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou
teologia.
Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote.
Bergoglio foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, entre 1980 e 1986.
Após completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu como confessor e diretor espiritual na cidade de Córdoba.
Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de
Buenos Aires. Em 1997, ele foi nomeado arcebispo titular de Buenos
Aires.
Também atuou como presidente da Conferência Episcopal da Argentina de 2005 até 2011.
Foi criado cardeal pelo então Papa João Paulo II, no consistório de 21 de fevereiro de 2001.
Bento XVI saiu alegando que não tinha mais forças para a tarefa de liderar a igreja. Seu
pontificado
foi marcado por várias crises, pelo escândalo do acobertamento da
pedofilia e pelo vazamento de documentos secretos no chamado escândalo
VatiLeaks.
O conclave ocorreu após dez congregações gerais de cardeais, nas quais
os problemas da igreja foram debatidos exaustivamente, em meio a muitas
especulações e conversas de bastidores sobre os prováveis papáveis.
A imprensa italiana afirmou que um dos principais temas das
congregações foi um dossiê preparado no ano passado, a pedido do hoje
Papa Emérito Bento XVI, sobre irregularidades na Cúria Romana. Cardeais
estariam pressionando
pelo acesso ao documento. Questionados abertamente, o Vaticano e cardeais minimizaram a importância do documento.
Renúncia de Bento XVI
O alemão Bento XVI, desde 28 de fevereiro Papa Emérito, anunciou em 11 de fevereiro que havia decidido renunciar.
Ele foi o primeiro pontífice a renunciar em mais de seis séculos, o que
criou situações praticamente inéditas para a Igreja Católica Apostólica
Romana.
Desde a renúncia, Bento XVI está em Castel Gandolfo, a residência de verão dos Papas, que fica a cerca de 25 km do
Vaticano.
Ele permanecerá lá por dois meses e depois ficará recluso num antigo
convento sobre as colinas do Vaticano, com vista para a cúpula da
Basílica de São Pedro.
Fonte: G1