Na metade da década de 90, a notícia de que se poderia cultivar uva no clima quente de Mato Grosso despertou o interesse de diversos empresários do campo
Investimentos no setor fizeram o estado ganhar destaque nacional e a cidade de Primavera do Leste, 240 km da capital, tornou-se conhecida pelos vastos parreirais. Hoje, o sindicato rural do município encontra dificuldades de localizar algum produtor que ainda esteja no ramo.
De acordo com o diretor da Sociedade Mato-grossense de Fruticultura, Duílio Maiolino, o uso de agrotóxicos e defensivos das culturas de soja, milho e algodão ajudaram a diminuir a produção de uva. Bastante sensível, a viticultura sucumbiu à toxicidade dessas substâncias.
Apesar da diminuição de produtores, alguns se mantiveram no negócio e garantem colheita recorde em 2012. Morador de São Pedro da Cipa, a 140 Km de Cuiabá, Eduardo de Abreu cultiva, junto com o pai, dois tipos da fruta, a Niágara e a Itália. Setembro é mês de colheita e, segundo estimativas do proprietário, a produção chegará a 10 toneladas. A quantia irá abastecer as cidades de Jaciara, Rondonópolis, Dom Aquino e a capital para o consumo in natura.
“Foi trabalhoso adaptar os pés de uva com o clima daqui. As parreiras de Mato Grosso precisam de tratamento diferente desde a adubação do solo até a poda”, considera o viticultor.
A plantação de uva local é organizada de maneira distinta do que se aprende e pratica em regiões mais frias, como a do Sul do Brasil. Para um dos proprietários da empresa de sucos de uva “Melina”, Michel Leplus, tecnologia é a palavra-chave para o sucesso da produção no Estado. A falta de investimentos do Poder Público à cultura é outra razão para o subdesenvolvimento da atividade.
“Mato Grosso se direciona para a soja e algodão porque é de rápido retorno, ao contrário da fruticultura, que, no caso da uva, o prazo é de dois anos”, frisa o empresário francês.
Sediada em Nova Mutum, a 250 km da capital, a empresa dos irmãos Michel e Alain Leplus, além de servir como testes para novas espécies da fruta, celebrará neste ano a colheita de 750 toneladas de uva produzidas em solo mato-grossense. As variedades Isabel Precoce e Violeta são as que compõem o suco 100% natural que conquistou selo Carrefour de qualidade.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de Jales, do interior de São Paulo, é parceira dos irmãos empresários.
Suco de uva na merenda pode ajudar plantio em Mato Grosso
Para estimular a viticultura, a sugestão do empresário Michel Leplus seria a inclusão do suco na merenda escolar. O estado do Rio Grande do Sul adotou a prática a partir de lei de autoria do deputado estadual José Sperotto (DEM) no ano de 2009. Outro pedido foi encaminhado para o Ministério da Educação (MEC) para que a iniciativa abranja todo o país.
O projeto de lei n° 5837/2009 já passou pela Comissão de Educação no dia 26 de junho e deve ser votado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovado entrará em análise no Senado.
Segundo o documento, a lei tornará obrigatória a inclusão dos sucos de laranja e uva no cardápio da merenda escolar no mínimo três vezes na semana. A “Suco de Uva do Brasil” ressalta que os beneficiados com a ação serão as crianças. Pesquisas realizadas pela empresa garantem que as uvas possuem substâncias naturais conhecidas como polifenóis, que fazem bem a saúde.
Os benefícios são a prevenção de danos causados pelos radicais livres, auxílio na prevenção do câncer, redução da pressão arterial, melhoramento da memória, entre outros.
As uvas verdes possuem uma menor quantidade de flavonóides, substâncias com função antiinflamatória que também protegem o organismo contra o ataque dos radicais livres.
Sendo assim, seus benefícios ao organismo são reduzidos se comparados aos das uvas preta, roxa e rosada.
Os sucos deverão ser 100% feitos com uvas das variedades Bordô, Concord, Isabel e Niágara branca.
No processo de fabricação, somente uvas frescas deverão ser utilizadas, sem a adição de água, sabores ou aromas artificiais.
Diferença
Uma lei pode tornar obrigatória inclusão dos sucos de laranja e uva no cardápio da merenda escolar no mínimo 3 vezes por semana
“A uva mato-grossense é de uma qualidade incomparável. Ela tem um grau de doçura muito alto e uma cor maravilhosa, algo que não existe nem no Rio Grande do Sul”, destaca Le Plus. As cidades que recebem o abastecimento das uvas in natura produzidas em Nova Mutum, além da própria cidade, são: Sorriso e Sinop.
Conforme o entrevistado, um dos principais fatores que influenciam na diminuição qualitativa da fruta dos outros estados é a utilização do sulfato de cobre, fungicida proibido na Europa e na América do Norte há 25 anos. Já Mato Grosso tem a vantagem de não usar.
Fonte: Portal do Agronegócio