Marcada para se iniciar nesta segunda-feira (10), a desintrusão dos ocupantes não-índios das terras de Suiá Missú pode acarretar sérios prejuízos à economia da região e do Estado devido ao risco de propagação sem controle das doenças da ferrugem asiática nas lavouras de soja e da febre aftosa entre o rebanho local.
A advertência serve como um dos argumentos usados pelos produtores rurais contra sua retirada do local e chegou a fundamentar petições judiciais por mais prazo no processo que culminou na desintrusão. Suas implicações econômicas já preocupam também produtores e municípios das proximidades; arrecadações de cidades como Alto Boa Vista (que tem 72% de sua área dentro da gleba Suiá Missú) já estão sob risco.
Oriundo de Rondonópolis, o agricultor Neivo Spigosso, de 63 anos, foi um dos que tentaram obter na Justiça mais tempo antes de se retirar das terras onde cultiva soja há dez anos. Sua plantação de 750 hectares, mantida por 12 funcionários, deve estar pronta para a colheita daqui a sessenta dias.
Na Justiça federal, ele sustentou, com base em laudo agronômico, o risco de propagação da ferrugem e outras doenças da lavoura caso os produtores sejam forçados a abandonar suas plantações. Também chegou a pedir o mesmo prazo para conseguir desmontar um secador e um armazém mantidos na área. O pedido foi negado.
Sem a manutenção do tratamento com fungicida (aplicação ao menos quatro vezes por safra), a doença da ferrugem, a que mais tem preocupado os sojicultores de Mato Grosso, fica incontrolável. O perigo é de que se espalhe pelas plantações ao redor e atinja um raio incalculável.
“Se não tratar, ela vai espalhar para o Estado de Mato Grosso, Tocantins e Brasil inteiro”, sentencia.
"Isso é uma questão de dias. É um fungo vivo e ele é propagado pelo vento. Onde houver soja, qualquer outra coisa, ele se reproduz e se espalha mais", complementa o produtor Adécio Farias, 40 anos. Quando ele recebeu a reportagem do Olhar Direto em sua fazenda, dentro da área de Suiá Missú, estava justamente preparando o próximo plantio de seus 600 hectares. Em meio às incertezas da situação jurídica da terra, ele já sofre prejuízo por antecipação; corre o risco de ter de desmontar seu aparato e abandonar uma plantação na qual investiu pelo menos R$ 1 mil por hectare.
Aftosa
De acordo com a decisão judicial que determinou a desintrusão, os ocupantes de Suiá Missú estão sujeitos a perder os bens materiais desde que se findou, na última quinta-feira, o prazo para a retirada voluntária. Desta forma, perde-se também todo o controle sanitário tanto sobre as lavouras da região quanto sobre o gado.
O resultado é um rebanho estimado em 300 mil cabeças totalmente vulnerável a qualquer foco de aftosa – e a vacinação ainda está curso.
“Tudo isso está sendo atropelado. E se amanhã, em função dessa bandalheira que está sendo feita aqui, surge um foco de aftosa e derruba toda a pecuária de Mato Grosso? Isso não é fantasia, é real. Nós estamos num mês de campanha de vacinação e os produtores aqui, diante de tais circunstâncias, não estão tendo nem como vacinar o gado”, indigna-se o produtor Naves Bispo Júnior, veterinário ex-coordenador do Centro de Zoonoses e pecuarista em Suiá Missú.
“Vocês já pensaram nisso, como está sendo feita a coisa de forma irresponsável? O Brasil tá doando vacina de aftosa para segurança aftosa para o Paraguai e para a Bolívia para que não haja possibilidade de trânsito de animal não vacinado. Mas agora, dentro do nosso Estado, um juiz se atreve a passar por cima das determinações sanitárias. Que força motora é essa, violenta?”, questiona.
Fonte: Reportagem local
Foto: José Medeiros / Fotos da Terra
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