Neste momento Edilson Barbosa de Souza, 46, está alojado sob uma lona à beira da rodovia federal BR 080, num ponto a nordeste no território mato-grossense. Tem chovido forte nos últimos dias. Edilson foi o primeiro morador da área indígena Marãiwatsédé efetivamente despejado em operação comandada pela Força Nacional e Polícia Federal. Sem rumo, o famoso ‘Bigode’, como é conhecido entre os caminhoneiros, juntou tudo o que pôde e atravessou a rodovia, limite do território xavante, para se instalar ao lado de uma árvore.
Esta foi a terceira derrota consecutiva de Bigode em poucos meses. Ele teve a casa completamente incendiada acidentalmente, a caminhonete tombada e agora entra em desespero com a perda de sua terra de apenas um hectare. “Eu não era homem pra viver desse jeito. Eu tinha as coisas que acabou tudo. Eu acho que eu vou é morrer. Não aguento mais essa dor na cabeça, não durmo mais. Vou pegar um litro de pinga e vou beber até morrer. Eu nunca chorei uma pena dessa”.
Para desocupar seu único hectare, Bigode ganhou um prazo de 24h do oficial de justiça responsável por cumprir o despejo junto aos policiais. “Eles falaram que, se eu não saísse, iam me prender”, lembra. “Tenho 24 horas pra tirar minhas coisas e eu vou pra donde? Minhas coisas estão todas ali, eu vou ficar aqui mesmo moço [do outro lado da BR]”, completa já em sua nova moradia. Ele abriu uma clareira na mata, à margem da rodovia e montou seu barraco.
Antes do incêndio e do despejo, Bigode era comerciante. Possuía um restaurante que servia viajantes na abandonada 080, estrada cujo único destaque é o grande número de buracos. “Olha onde a Dilma [Rousseff] tá me pondo, cês tá vendo? Eu vou viver aqui até quando? Eu não tenho condições de arrumar outro lugar pra ficar”, lamenta.
A maior revolta do comerciante durante a abordagem da polícia e dos oficiais de justiça foi o fato de terem desconfiado que ele fosse traficante de drogas e de, segundo seu relato, terem-no chamado de bandido.
A mesma proporção do desespero e tristeza que se enxerga em Bigode é vista em forma de revolta nos olhos de sua vizinha, Maria Conceição Sales Cassiano, 32 anos, que além de despejada teve sua casa revistada pelos policiais em busca de armas.
“Eles olharam banheiro, olharam quarto, olharam tudo e perguntaram por que eu não tirei minhas coisas ainda da fazenda e eu disse ‘como é que eu vou tirar minhas coisas da fazenda’”?, narra. A resposta, pelo que ela lembra, foi um sonoro ‘se vira’.
Agora, personagens como esses devem ser os primeiros a integrar a lista de despejados de Suiá Missú dentro dos parâmetros para entrarem no programa da reforma agrária, mas a péssima fama do Incra não leva nenhum dos dois a crer que haverá algum dia compensação em forma de terra por tudo que têm passado.
Fonte: Reportagem local - Lucas Bólico e Renê Dióz - enviados especiais a Estrela do Araguaia (Posto da Mata)
Foto: José Medeiros/Olhar Direto
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