Moradores do Posto da Mata, no distrito de Estrala do Araguaia, entre Alto Boa Vista e São Felix do Araguaia fizeram uma verdadeira 'caçada' durante a tarde desta quarta-feira (17) aos policiais federais, rodoviários federais e aos agentes da Força Nacional que conduzem a operação de desintrusão de não-índios da área demarcada pela Funai em 1998 como terra Xavante.
Líderes da Associação dos Produtores Rurais de Suiá Missú (Aprosum) alegam que não apoiaram a ação. A ‘caçada’ aos agentes federais mobilizou aproximadamente uma centena de homens, divididos entre carros e caminhonetes. Os moradores, que desde ontem não estão mais conseguindo acesso às ações da operação tampouco à sua linha estratégica, saíram entrando nas fazendas atrás das forças policiais.
“Quero deixar muito claro que eu desaprovo essa ação. Eu sou contra”, asseverou o produtor e membro da Aprosum Naves José Bispo, em entrevista ao Olhar Direto. De acordo com ele, o também membro da associação Sebastião Prado é igualmente contra.
Planejada durante mais uma vigília noturna no dia anterior (quando também foi anunciada para a imprensa), a ação de caçada às forças policiais começou cedo da manhã e só foi se encerrar ao fim da tarde, em meio à chuva. Os homens envolvidos na ação percorreram quatro propriedades rurais ao longo da esburacada rodovia federal BR-080, onde concentram-se fazendas de maior porte – as quais foram agrupadas no “grupo 1”, dentre um total de 4, do cronograma de ação das forças policiais.
Embora a princípio cientes da estratégia de deslocamento das forças policiais, os produtores foram se deslocando com base em informações desencontradas e, a cada instante, um novo paradeiro dos agentes era cogitado. De início, eles se concentraram na propriedade de Naves, a fazenda Mata Azul, onde mataram uma vaca para o almoço. Cerca de uma hora depois, começaram a percorrer a BR-080 em busca dos agentes federais.
Em um ponto no caminho, os moradores a bordo das caçambas das caminhonetes recolheram pedaços de pau na mata e pedras para reagir contra as forças policiais se necessário. Os armamentos improvisados acabaram não sendo usados, pois não houve sequer rastro da presença de policiais nas próximas três fazendas nas quais entraram até cerca de 20 km da BR-080.
No retorno, o único ‘rastro’ de agentes federais foram notícias dadas por pessoas ao longo da estrada dando conta de sobrevoos de helicópteros – os quais certamente notaram a presença dos veículos em comboio e descartaram uma possível ação naquela área. No perímetro urbano do distrito de Estrela do Araguaia (Posto da Mata), os helicópteros – geralmente “recepcionados” pela população com disparos de rojão – também foram notados.
Ao fim do dia foi divulgado que a Polícia Federal decidiu não mais seguir o cronograma publicado anteriormente de visitas às áreas em via de desintrusão para não ensejar novos confrontos com os moradores locais, como ocorreu na tarde da última segunda-feira. De qualquer maneira, a primeira fase da operação federal de cumprimento do despejo nos 165 mil hectares de Suiá Missú (abrangendo as maiores propriedades da gleba) se encerra no próximo sábado, também segundo divulgaram fontes oficiais nesta quarta-feira.
Apesar da caçada frustrada, os moradores continuam mobilizados para lutar. Medicamentos e alimentos doados por empresários solidários à causa chegaram hoje ao coração da resistência dos moradores do distrito, o posto de gasolina localizado na entrada de Estrela do Araguaia.
Fonte: Reportagem local - Lucas Bólico e Renê Dióz - enviados especiais a Estrela do Araguaia (Posto da Mata)
Foto: José Medeiros/Olhar Direto
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